Carta da Amazônia

Étienne Levac
Facebook: @Étienne Levac
Ajuda à tradução: Véronique Richer, Rogério Vilela Silva Júnior e Danielle Coenga 
Publicado em francês na revista Ex_Situ (2021)


Mistura-se nesse espaço polimórfico

Onde o tempo e os sentidos flutuam no ritmo das águas.

Modelada em ecos das profundezas invisíveis do rio, uma resiliência do vivo luta e dança para a vida

Será que os que vivem estão indo rumo à morte?

Será que é diferente aqui?

Fotografia: “A persistência de imagens e ideias em materialidade antigas e modernas” 2020, Manoel Ribeiro de Moraes Junior

Uma morte encantada é um movimento em direção à vida

Tudo é consubstancial. Tudo se mistura para formar uma zona dualista e única onde um é o outro.

O rio confunde a mata com o leito dos igarapés

O exterior interfere no interior

O que morre permite a vida.

O fundo do céu reflete na superfície da àgua

Um jogo de espelhos dançantes que faz interagir os mundos.

Suspensa na sua rede, você se mexe e se balança ao ritmo dessa dança

O silêncio e o vazio são estrangeiros de passagem refletindo o mais fielmente possível nossos medos

Uma sombra ou uma forma dá o tom. Mas é o brilho de todos estes olhos que criará um vazio em ti

Um tipo de vazio que irás preencher de maravilhas e temores

Um labirinto topográfico e hidrográfico como uma àrea de identidade e um marco para o que foi esquecido

Se você sabe falar com a Jamburana, quem considera as lesões da caça uma ode à vida da sua família, jamais você se perderá

Mas você lembre-se

O idílio num pesadelo dá um gosto estranho ao caos

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