Para as gerações que são e as que (Oxalá!) virão
Priscylla Joca
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Um novo ano se inicia, ano em que esperançamos a derrota do bolsonarismo. Ano que começa com senso de déjà vu e novas ondas pandêmicas. Que segue com sentimentos de sobre-vivência, lutos, lutas, perdas e resistências.
Diante de tudo, sonhar e imaginar futuros possíveis se enraiza como re-existências em movimentos por tempos não-distópicos. Escrevi esse texto diante da angústia do Téo após assistirmos “Não olhe para cima.” Precisava dizê-lo, “filho, sua geração precisará criticar-imaginar muito para (re)construir; não tenha medo do futuro, se apegue à energia dos seus 15 anos, Olhe Para Cima e sonhe e cante para Adiar Fins de Mundos e construir Futuros Possíveis.”
Um dos desafios significativos de nosso tempo é imaginar possíveis futuros. Ou mesmo imaginar um futuro, em escala local ou global. Lembramos do tempo em que assistíamos filmes (pós)apocalípticos e os víamos como realidades alternativas, contudo, distantes. Talvez muitos de nós nunca imaginamos que veríamos o drama-comédia americano “Don’t Look Up” (“Não olhe pra cima”) com mal-estar, inquietação, agonia e identificação. Porque é verdade, isso realmente poderia acontecer, metaforicamente ou não.
Após o filme, podemos experimentar sensações de medo, ansiedade e impotência. O que fazermos diante de tudo isso? Creio que nosso incômodo (coletivo) pode fortalecer o desejo de imaginar futuros possíveis e a nossa vontade de lutar pelo presente e pelo futuro.
Nós que somos do Brasil temos experienciado fins de mundos entre os efeitos desastrosos de um governo genocida e ecocida. No Sul geopolítico do mundo, aprendemos que a resistência, subjetiva e objetiva, é a única maneira de reinventar a existência humana.
Diante das consequências ecológicas, sociais e econômicas do capitalismo extrativista e diante da mudança climática e da crise climática em tempos de pandemia, não é fácil imaginar um futuro que não seja catastrófico. Mas sim um que seja dirigido à justiça social, ambiental e climática para os povos indígenas e não-indígenas.
Mas precisamos imaginar! Precisamos sonhar com futuros para continuarmos avançando. Para onde? Para o sonho de um futuro em que gostaríamos de viver para além de sobreviver.
Ailton Krenak, em seu livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo (2020), nos convida a continuar imaginando o futuro. Ele nos instiga a aproveitar nossas capacidades de sermos criativos e críticos, para aprender com os povos indígenas que têm muito a nos ensinar. Ele nos convida a contar, ouvir e compartilhar histórias. Segundo ele, se pudermos contar histórias de outros mundos e futuros possíveis, atrasaremos o fim do mundo. Ailton Krenak nos convida a tirar proveito de nossa criatividade. A não temer as quedas e construir paraquedas coloridos, aprendendo a planar enquanto nos admiramos com a imensidão do cosmos.
Neste outono, tive a oportunidade de ministrar o curso de Direito Indígena na Faculdade de Direito da Universidade de Montreal. Foi uma experiência maravilhosa e enriquecedora! Como professora, creio que devemos compartilhar nossos conhecimentos e esperanças. Assim, no exame final, perguntei às/aos estudantes: Enquanto futuros juristas, como vocês imaginam possíveis futuros?
E você? Como vocês imaginam futuros possíveis?