Uma experiência brasileira e nordestina
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O ano era 2016, o país assistia, atônito, ao movimento golpista que tiraria a primeira mulher a ocupar a presidência do Brasil – Dilma Rousseff. Surgem vários grupos reunindo os antigos jovens que lutaram pela “Diretas Já”, há muito afastados da vida política, talvez pela ilusão da estabilidade política e da garantia do Estado Social delineado pela Constituição de 1988. Os grêmios e associações agora se denominam coletivos/as, o jornal dá lugar à interação em tempo real via WhatsApp. Nesse contexto, em Sergipe, menor estado do nordeste brasileiro, um grupo de mulheres decide resistir, nasce então a Coletiva Mulheres Livres.
A aliança dessas mulheres surge da exclusão experimentada em grupos de esquerda, de participação mista. As relações de poder em função do gênero refletiam nesses grupos a misoginia e violência de gênero que fazem do Brasil um dos países mais perigosos do mundo para mulheres, principalmente negras, trans e travestis. Experenciar o silenciamento e a exclusão em grupos ditos progressistas foi o propulsor desse movimento. Ficou demonstrado como é imprescindível a reunião de mulheres em torno de pautas específicas à conquista e à manutenção de seus direitos.
A Coletiva Mulheres Livres passou a enfrentar à necropolítica que se instalava no país, com a participação em atos, discussões políticas, encaminhamento de propostas legislativas através do conselho estadual de direitos da mulher. Simultaneamente promovia conferências, grupo de estudos feministas, audiências públicas. Desse trabalho resultou a criação de canais específicos para denúncias, cartilhas de enfrentamento à violência de gênero e comissões especializadas para atendimento às vítimas dentro de instituições públicas de ensino superior. A atividade da Coletiva sempre foi orientada pela prática interseccional, estando aua atuação ligada a várias frentes, do meio acadêmico à zona rural, com as atividades e intercâmbio de experiências com mulheres quilombolas. Desse contato nasceu a primeira Coletiva de Mulheres Quilombolas de Sergipe, fruto da troca de informações e apoio às questões de mútuo interesse.
Uma das prioridades que as integrantes perceberam foi a necessidade de estudar gênero, não somente dentro do coletivo, disso nasceu a iniciativa de se criar um grupo de estudo sobre feminismos, que se iniciou com a leitura de Djamila Ribeiro – O que é lugar de fala, passando por textos de Ângela Davis e O que é Empoderamento, de Joyce Berth.
Com a criação do instagram (@mulhereslivresaju), outro projeto, reconhecendo-se o poder das redes sociais como instrumento de democratização de informação, utiliza-se para divulgação de ações, indicação de eventos, livros e filmes, com conteúdo crítico, sobre gênero. Diante da pandemia, que impõe o isolamento social, estão sendo realizadas lives, com o convite e participação de mulheres militantes em questões de gênero. Um dos momentos marcantes da trajetória da Coletiva foi a sua participação, em dezembro de 2018, do XX Encontro Internacional da Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisa sobre Mulher e Relações de Gênero (REDOR) e 19º Simpósio Baiano de Pesquisadoras(es) sobre Mulher e Relações de Gênero, realizado em Salvador-Bahia. O compartilhamento de vivências com mulheres de outros países latino-americanos comprovou que ser mulher, seja onde for, traz desafios de re-existências. Atualmente, com o avanço da extrema direita no mundo, das religiões baseadas no antigo testamento, a união de mulheres do mundo é a única força capaz de conter a opressão e o retrocesso que se avizinha. Nunca foi mais oportuno convocar: Mulheres do mundo, uni-vos!
Biografia: Coletiva Mulheres Livres, coletivo de mulheres brasileiras, nordestina, antirracistas, diversas, com a finalidade de promover discussão e implantação de políticas públicas envolvendo mulheres e relações de gênero, raça e classe.